domingo, 25 de março de 2012

O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro



13 comentários:

  1. Com um roteiro muito fundamentado no Brasil da época e numa crítica política muito forte, típica do Glauber, o filme tem uma direção de fotografia muito boa, planos sequência, o uso da profundidade de campo, dos enquadramentos, os movimentos de câmera, foi o que mais me chamou a atenção. Não digo o mesmo da mise-en-scene, com atores olhando para a câmera e algumas atuações não muito boas. O filme entrou para a história do cinema brasileiro (cinema novo, retomada), mas os tempos são outros...

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  2. Bom roteiro, baseado numa crítica chocante entre lei e ordem, onde o rei do gangaço na caatinga, era um criminoso, ou melhor nosso ¨herói made in Brasil¨. A linguagem é típica do Glauber, a agressiva, boas sequências, fotografia e edição são ótimas, para o estilo (bang-bang), apesar de haver alguns exageros de atores, chegando a comédia. O filme marcou sua época, passando sua mensagem.

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  3. Logo na primeira cena somos inseridos no que promete ser um western brasileiro, entretanto, as cenas remetentes ao gênero demoram a aparecer, mostrando duelos quase cômicos acompanhados de uma cantoria por vezes desafinada e inesperada. À medida em que o filme se desenvolve, surge a dúvida se a obra se encaixara como uma ficção ou um documentário, ou talvez a mescla de ambos? Os planos longos e abertos, geralmente externos, retratam a simplicidade do local, apresentando uma bela fotografia para os padrões convencionais do Cinema Novo do país. É nítida a pós-produção precária do som, com os diálogos, efeitos sonoros e cantoria fora de sincronia em vários pontos da projeção, ainda que isso não seja de todo o mal.

    Vale a pena ressaltar a mise-en-scène, Glauber dispõe os personagens de tal forma que seus atores aparentam estar num palco aberto ou representando atos bíblicos, beirando ao místico. Justamente nesse contexto entende-se que Glauber Rocha, em paralelo com Stan Lee nos Estados Unidos criando super-heróis pela Marvel na mesma década, põe em cena o caçador Antônio das Mortes, o "cangaceiro" Coriunga e Dona Santa (antagonistas casualmente entre si) representando a necessidade e força do povo oprimido contra o coronelismo ainda vigente, batendo de frente com a situação brasileira na época em que o filme foi rodado (e também ambientado).

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  4. Trilha sonora fantástica...
    O canto das "beatas", o pandeiro no início das sequencias, as dissonâncias entre a ópera e o piano criam um clima incômodo, ansioso, confuso, primoroso! Scorsese falou bem, o repente que conta a história da "Chegada de Lampião ao Inferno" é incrível. Isso sem contar os personagens "cantando" sua história, no caso de Coraina ao lado de Antonio das Mortes e da Santa.

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  5. Um filme impactante. A linguagem que é característica de Glauber Rocha propõe a não naturalidade, buscando causar no espectador uma reação importante e não a simples distração do entretenimento. Não há heróis ou vilões, embora o público, por puro hábito, sinta a necessidade de reconhecê-los. Há pessoas reais. Usando o conceito estético do “gestus”, Glauber transforma os elementos em signos, algo que significa. A trilha, forte, muitas vezes dissonante, outras ausente; a interpretação dos atores, estranha e olhando a câmera como se quisesse falar diretamente com o espectador, quebrando a “quarta parede” do naturalismo; os planos sequência, exigindo um tempo e uma paciência que já não temos, logo incomodando; os personagens, denunciando toda a situação política e mostrando nossa cultura através do sincretismo total entre religiões, economias e políticas; enfim a composição dos seus filmes quer, conscientemente, manter o espectador desperto e crítico. Essa estética é baseada no “verfremdungseffekt”, traduzido do Alemão como efeito de distanciamento ou estranhamento, conceito difundido por Bertold Brecht que acreditava na arte como um instrumento de politização das massas, provocando o questionamento crítico para tirar o espectador da alienação, da passividade distraída, do simples entretenimento. A intelectualidade contemporânea ao Glauber recebeu com entusiasmo esse nova linguagem estética. Para saber mais sobre isso, leia: http://www.pucsp.br/neamp/artigos/artigo_11.htm
    Para mim, a cena mais impactante é quando o Professor espanca o negro gritando “Brasil! Brasil! Brasil!”. Olhando a cena com cuidado e percebendo seu significado, é impossível não se emocionar. Agradeço ao MOFO por oferecer aos novos talentos esse momento de apuro estético, exibindo com a devida relevância uma obra do Glauber Rocha, um dos grandes nomes da história artística do nosso país.

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  7. Com muitas representações, esse filme retrata o pensamento e cultura de um país. Me admirou a fotografia deste, o domínio da técnica de captura, que não imaginei que na época (1969) fosse tão bom. Ao contrário da captação de som e diálogos do filme, mesmo remasterizada digitalmente, fica bem ruim ouvir as falas. Me agrada ver impregnado a cultura ali na película a cultura e as lendas, como lampião, mais a religiosidade. Não deixando de ter as marcas dos bang bangs americanos e italianos.

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  8. Este filme com certeza é um marco no cinema nacional. É claro que o fenômeno do Cinema Novo maximiza a estética da fome tão alardeada por Glauber Rocha por conta do sempre limitador orçamento. Desta maneira, a percepção das dificuldades desafia a capacidade do cinema nacional em inventar uma nova estética através de uma reciclagem da linguagem e criou uma versão brasileira do clássico faroeste americano, com direito a cenários inspiradores para os produtores de Red Dead Redemption, principalmente para o design dos cenários de Punta Orgullo e Chupa Rosa.

    Débora Gomes

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  9. ALCISO. Comentário do filme. Um filme que faz uma sátira de uma época da situação econômica, social, religiosa, política, cultural de um povo. Clalber Rocha faz uma mistura de realidade, ficção, comedia, ele também expõem seus pensamentos, suas loucuras e sonhos, ele tinha uma linguagem de cinema muito avançada ao tempo, tinha uma visão futurística em relação as criticas que ele fazia da política e situação do povo. A fotografia do filme e muito bonita,combinação de cores, enquadramento, que tem uma linguagem muito clara em relação ao tema do filme.

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  10. Filme narrado com imagens, representando a luta dos oprimidos e excluídos, caracterizados por um grupo de pessoas mal vestidas, sujas, com a pele queimada pela seca, feias e famintas, contra os poderosos, caracterizado pelo Coronel Horácio, para o qual só interessa os seus bens, a sua família, o seu bem estar.
    A fotografia é excelente, muito boa combinação de cores. O enquadramento também é ótimo, ressalvando-se alguns planos-sequência muito longos que torna o filme por vezes cansativo.
    A linguagem utilizada de forma alegórica é perfeita, haja vista que o filme foi produzido em um período em que a censura no país estava bastante ativa. Mas, enfim, é um ótimo filme.

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  11. Glauber Rocha nesse filme consegue nos tirar do conforto visual, causando muita sensação de estranhamento, com planos muito longos, cenas um tanto incomuns e muitos outros recursos para tirar da passividade do espectador, levando-o ao questionamento.
    A música nesse filme tem um papel muito importante para a narrativa, muitas vezes contando pequenas histórias sobre o cangaço. A fotográfia valoriza bastante o sertão e sua beleza. As simbologias no filme nos leva mais uma vez ao questionamento. Gostei da forma como os líderes dos cangaceiros eram vistos, com a preocupão de cuidar do povo que o segue.

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  12. Intrigante do início ao fim. Complicado compreender a narrativa(ou a deslinearidade dessa)sem entender o contexto brasileiro na época, no que diz respeito à pobreza(fome)e a opressão.Quanto às aspectos técnicos, destaque para a fotografia e a trilha, sobretudo aos cânticos entoados pele povo.

    Thatyelle da Cruz

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  13. Como comentaram acima, o filme tem um roteiro surpreendente, utilizando ferramentas cômicas e impactantes para construir uma narrativa que sai do comum e mesmo assim tenta retratar uma história, firmada pelo real. A trilha sonora do filme carrega e espectador em momentos chave, e em outros fica monótona, apoiando planos muito longos de coisas que já vimos.
    É interessante perceber que a fotografia do filme, além de bem composta, é também bem bonita. Os restauradores do filme inclusive se perguntam, nos extras, até que ponto o processo de restauração influi no resultado final do filme, discussão muito interessante para o filme em questão.

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