segunda-feira, 23 de abril de 2012

Vidas Secas




8 comentários:

  1. Com aspectos técnicos inferiores ao do filme da sessão anterior, Vidas Secas é um clássico entre vários filmes que retratam o drama nordestino. Ambientado na década de 1940, acompanhamos uma família em busca de condições de vida. Logo quando as coisas ao seu redor apresentam um sinal de melhoria, elas tornam a desandar novamente com os indícios da falta da chuva e também dos contos de réis.

    O tratamento fotográfico é básico, com planos longos e abertos que procuram evidenciar a imensidão da seca, mas funciona pois o elenco retrata de forma humilde seus personagens e a falta de afeto é sentida, cabendo à cadela Baleia proporcionar ao público momentos de alívio "cômico". Os personagens Sinhá Vitória e Fabiano têm ocasionalmente falas curtas e ações inesperadas, temendo sempre aqueles que consideram poderosos.

    Vale ressaltar o fato de o filme ser uma adaptação literária e, segundo relatos, destoa de seu texto original, provando que não são apenas os blockbusters de Hollywood que adaptam de forma parcial os produtos literários nos quais se baseiam.

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  2. Vidas Secas é um retrato do sertão nordestino, não discutindo aqui sua fidelidade à obra que se dispõe adaptar, como um depoimento verídico.

    O filme se passa em 3 anos na vida dessa família, de 1940, quando se encontram no "deserto" do sertão, passando fome e sede, passando por 1941, aonde já se encontram estabelecidos, sem que lhes falte muita coisa, e chegando em 1942 quando tudo se definha e as dificuldades retomam o seu lugar.

    Como o Thiago comentou acima, o filme não é muito fundamentado nos diálogos, temos palavras e frases que conduzem o filme, mas não temos uma narrativa construída com palavras, o filme se conta através da fotografia contrastante, do uso do plano geral para exaltar a imensidão daquele sertão que cerca seus habitantes de todos os lados, como um grande mar de areia e sol escaldante.

    Ainda dentro do enquadramento vemos a presença da subjetiva, principalmente quando ela nos mostra o olhar de um dos meninos, no começo e no final do filme, a câmera na mão da o toque necessário para que um envolvimento com aqueles personagens comecem. Mesmo assim, faltou o tato da literatura, para que o espectador se envolva com o que está sendo mostrado, na exibição os alunos exibiam comentários nas horas em que Baleia entrava em cena, algumas vezes de maneira cômica, o resto do filme não tirava olhares de desconforto nem de envolvimento.

    Também dentro da linguagem escolhida, temos a presença mais forte dos planos fechados no segundo ato do filme, e também o uso constante do plano de dois, como classifica Gustavo Mercado, aonde temos dois personagens ocupando a tela constantemente.

    Vidas Secas deve ser considerado um dos grandes clássicos do Cinema Novo, por se trata da estética da fome, como diria Glauber Rocha "De Aruanda a Vidas secas, o cinema novo narrou, descreveu, poetizou, discursou, analisou, excitou os temas da fome: personagens comendo terra, personagens comendo raízes, personagens roubando para comer, personagens matando para comer, personagens sujas, feias, descarnadas, morando em casas sujas, feias, escuras; foi esta galeria de famintos que identificou o cinema novo com o miserabilismo tão condenado pelo Governo, pela crítica a serviço dos interesses antinacionais, pelos produtores e pelo público – este último não suportando as imagens da própria miséria."
    Vidas Secas deixa explícito o passado do nosso país, será passado mesmo? A vida no sertão nordestino continua difícil, o que diferencia isso no cinema é que agora a tendência é mostrar a favela e esconder o sertão. O Cinema Novo deve ser mais explorado, explicitado, posto à mostra, para que uma nova geração não ignore algo que fez história, algo que faz parte do nosso cinema e da nossa história.

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  3. Esta é mais uma das histórias de sofrimento do povo nordestino e retrata fielmente a realidade dos anos 40, onde se passa a história, bem com a de hoje. Mostra tudo aquilo que existiu, existe e existirá sempre, até que o governo implemente uma ação conjunta e séria para acabar com as agrúrias, principalmente com a falta da água no sertão nordestino.

    Sendo um expoente do Cinema Novo, o filme traz em si algumas características dessa fase, como história participativa e intromissão na vida política. Aborda temas como a fome, a falta de
    trabalho, a miséria, a seca do sertão, a exploração do camponês ignorante pelo coronealismo e até mesmo a atitude de jagunços (quando vão tirar o personagem que está na cadeia) ou cangaceiros.

    Senti falta de uma trilha sonora, a qual daria um pouco mais de emoção no filme.

    Em dado momento havia muito canto de passarinhos, porém o filme não mostrou nenhum cantando.

    Quanto a fotografia, muitas vezes, para mostrar o assunto principal, cabeças e outras partes do corpo dos personagens eram cortados.

    Planos sequência muito longos, como sempre, tornam o filme um pouco cansativo.

    A luz usada, provavelmente foi a luz natural, deixou a desejar na hora de mostrar as emoções no rostos dos personagens.

    Frases muito curtas não conseguem narrar a história, o que é feito através de imagens diretas.

    Não gostei e não entendi a morte da cadela Baleia. Após receber um tiro de espingarda, o que normalmente estouraria sua cabeça, a cadela aparece capengando como se tivesse com um espinho na pata trazeira e com a anca ensanguentada. Depois vai aos poucos fechando os olhos, dando a nítida impressão de ter sido dopada.

    Enfim, apesar de ser considerado um clássico do Cinema Novo, acho que o romance de Gracialiano Ramos poderia ter sido melhor contado.

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    1. Concordo plenamente em alguns pontos com você Neltair.

      Depois da ótima aula que tivemos após o filme dada pelos professores, fui ler algumas críticas (imagino, que essa é uma das intenções do MOFO) e li a respeito do esforço que o diretor Nélson Pereira dos Santos fez para manter fidelidade à estética do Graciliano Ramos - "O escritor não gostava de adjetivos, evitava diálogos e adotava um estilo subjetivo, narrando a história através dos pensamentos dos personagens" (link: http://www.cinereporter.com.br/criticas/vidas-secas/).

      Mesmo sabendo da intencionalidade do diretor ("propunha um retrato naturalista da seca, sem retoques ou maquiagens, sem resquícios de melodrama"), do manifesto e da importância histórica do filme (estilo), acho um pecado a ausência de drama nas personagens.

      Como nesse caso a aproximação com a obra literária é inevitável - vide frase / manifesto inicial do filme -, é de se considerar que Graciliano Ramos deixava explícito as fortes emoções e intenções através dos pensamentos dos seus personagens, provando que minimalismo nem sempre é sinônimo de apatia e simplicidade. As longas sequências, a luz estourada, o som ambiente sem firulas do filme realmente dão uma angústia sem fim e aproximam o espectador da realidade de um ambiente hostil e selvagem como o da seca. Isso é o que há de mais interessante no filme. Mas passa longe do "realismo dramático" - pode isso Arnaldo? - do livro, que é carregado de emoções e dramas, como o da cadelinha Baleia, que partiu meu coração em 15.000 pedaços quando li o livro pela primeira vez.

      Heresias à parte, concordo com a Lorraine que devemos no mínimo compreender e admirar sua importância histórica e crítica. O "ter bolas" para fazer de uma obra prima, algo completamente longe de querer agradar alguém. Afinal, a maioria dos filmes subsequentes que assistimos e que de alguma forma flertam com o tema seca, assim como "Cinema, Aspirinas e Urubus" comentado na crítica acima e muitos outros, bebem, comem e dormem sem deixar troco na caixinha, dos filmes do Cinema Novo.

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  4. Como foi discutido no dia da exibição, o grande mérito desse filme na minha opinião é sua capacidade de representar o esteriótipo da vida nordestina de maneira tão impessoal, que o personagem mais cativante da narrativa é a cadela, chamada Baleia.
    Como comentaram acima, de fato o filme apresenta poucos diálogos e inserções de trilha, e o som chiado muitas vezes incomoda, mas essa é a intenção. Diferente de outros filmes do cinema Novo, que usaram ferramentas que apontam mais para a ficção do que para a documentação, esse filme é ficcional, e além dele se constrói a verdadeira realidade do nordeste. É um filme reflexivo, introspectivo.

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  5. O filme parece muito com as obras do neo realismo italiano. Ele é econômico em tudo, na fotografia, nos diálogos, no drama. Talvez por querer representar as características do livro. O que é um tanto desnecessário, afinal, livros são livros e filmes são filmes, nenhum é melhor ou pior que outro, já que possuem caráter completamente diferente.

    Débora

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  6. Nos comentários após o filme apontei a abordagem fria e distanciada que o filme possui, muito diferente da sensibilidade da obra original. Logo apontaram que esta pudesse ter sido uma escolha bastante consciente do diretor, algo que eu não posso discordar, principalmente ao verificar que tal escolha é mais do que apropriada para uma história dramática em si e que que dispensa qualquer artificio para criar uma atmosfera de drama.

    Em determinado momento da projeção a mãe agride ao filho pequeno, irritada diante de um questionamento ingênuo (a senhora já esteve no inferno?) e a atitude, embora repreensível, é justificável ao analisar a realidade daquela mulher infeliz, ignorante e miserável, cuja maior ambição de vida é "virar gente" e dormir numa "cama de couro igual a do Seu Tomás".

    São estes detalhes que dão tornam críveis aqueles personagens, visto que eles que não possuem a pretensão de agradar ou comover o público. E é isto o que dá ainda mais veracidade a este retrato de um Brasil que começou a ser descoberto com este Cinema Novo.

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  7. O filme leva o expectador à uma realidade sofrida daquela famlía, embora pareça absurdo alguns fatos no filme, algumas pessoas realmente vivem uma realidade semelhante.
    Os planos sequências longos dão nos deixam bem próximos da jornada deles, fazendo-nos sentir a dificuldade de atravessar uma longa distância à pé e com filhos pequenos. O apelo emocional é forte, o que me refletir sobre a diferença de ambiente que algumas pessoas precisam enfrentar somente por nascer naquele ambiente, enquanto outros sem ao menos refletir à respeito tem muito conforto e condições.

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